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Um ponto de equilíbrio chamado Jerami Grant

Texto de Lucas Meneghel

23 de setembro de 2017. O New York Knicks aceita uma troca que manda Carmelo Anthony
para o Oklahoma City Thunder em troca de Enes Kanter, Doug McDermott, e escolhas de draft.
Anthony chegava para formar o Big 3, junto a Russell Westbrook e o recém-adquirido Paul George,
e as expectativas eram altas.

27 de abril de 2018. Após se classificar com o seed 4 da Conferência Oeste, com uma campanha
abaixo do esperado, o Thunder foi eliminado no jogo seis do Primeiro Round dos playoffs contra o
Utah Jazz, com um então calouro Donovan Mitchell roubando todos os holofotes do duelo.

19 de julho de 2018. Após uma série de declarações de Carmelo dizendo que não aceitaria ter um
papel reduzido no ataque do Thunder, muito menos começar jogos do banco de reserva, o time
decide trocá-lo para o Atlanta Hawks, que o dispensou.

27 de dezembro de 2018. Em uma temporada maluca, com grandes favoritos oscilando, o Thunder
se encontra no terceiro lugar da conferência Oeste, atrás apenas por um jogo do Denver Nuggets,
líder. Junto a isso, uma defesa que lidera a liga em várias estatísticas avançadas.

Muitos motivos florescem para explicar a mudança de direção na franquia: um banco fortalecido,
Russell Westbrook mais cerebral e menos impulsivo, um Paul George calibrado… podemos pensar
aqui em vários motivos, mas o principal se trata de uma simples mudança: Jerami Grant por
Carmelo Anthony.

Foto: For The Win/USA TODAY Sports
Ok, está na moda criticar Melo depois dele ser dispensado pelo Houston Rockets mesmo
ganhando um salário mínimo para veteranos, mas a diferença que estamos observando no
andamento do time é absurda. Gostaria de dividir a análise em 3 tópicos principais, pelas quais
podemos abordar como essa troca foi benéfica para o Thunder.

Carmelo chegou na expectativa de um big 3 para o Thunder, o resultado sabemos bem...
(Foto: NBA/Getty Images)

1º. Small ball era

Olhemos para a NBA de dez anos atrás. Provavelmente não conseguiríamos nem ver Carmelo,
nem Grant sendo titulares da posição 4 com grande relevância na liga. Até havia alguns bigmen esticando o seu alcance para a linha dos 3, como Kevin Love, recém-chegado na liga,
Lamar Odom, Hedo Turkoglu, mas era algo pouquíssimo difundido.

Steve Kerr trouxe um esquema revolucionário não só por colocar jogadores da posição 4 para
arremessar a bola, mas por aumentar o ritmo de jogo em um nível absurdo. O famoso Phoenix Suns,
na temporada 2004-2005, com um estilo apelidado de “7secondsorless(sete segundos ou menos,
pra quem preferir) à época justamente por sua rapidez de definição, seria o último colocado da liga
na presente temporada. Isso mesmo, o último.

Alta intensidade vem se destacando para o Thunder nessa temporada
Nisso vem a primeira grande diferença entre contar com Melo e Grant. Todos sabem que o primeiro é um grande arremessador, até mesmo melhor que o segundo. Este fato, porém, se anula pelo fato do ex All-Star não conseguir manter uma alta eficiência em ritmo intenso. A falta de atleticismo, nesse momento da carreira, pesa. Nesse aspecto, Grant compensa a falta de aspectos técnicos refinados com velocidade.

Prova disso, vemos nos números. Na temporada 2017-2018, o Thunder foi apenas o 17º na liga em
Pace, com uma marca de 96,7, apenas a 17ª marca na liga. Enquanto isso, para a temporada
2018-2019, temos a 5ª melhor, com 103,. O Thunder se adaptou à nova era com Jerami Grant.

2. Solidez defensiva

Não é novidade alguma que Anthony nunca foi um grande defensor. Facilmente batido na velocidade
por jogadores mais ágeis, e muito fraco para defender um jogo de costas para a cesta. Agora, a
temporada defensiva de Grant salta aos olhos.


Aqui, trazemos algumas estatísticas defensivas à critério de comparação. Defensive Win Shares,
que mede aproximadamente quantos jogos foram ganhos devido a defensa de um jogador;
Defensive Box Plus Minus, que mede quantos pontos poderiam ter sido evitados ou foram roubados;
além de Defensive Rating, que mede quantos pontos um jogador é responsável a cada 100 posses.

Vale lembrar que as DWS são um stat acumulativo, e baseado no número de jogos do ano passado
de Melo, o número 9 dessa temporada teria 3,9. Esse stat o coloca com o segundo melhor jogador
da posição 4 na categoria, atrás apenas de Thad Young. Em defensive rating, o 5º.

Esse block ainda deve doer em Kevin Durant
(Foto: 
Uma das principais falhas do Thunder ano passado era a falta de um protetor de aro de respeito. Apesar de Steven Adams ser um grande defensor on-ball, nunca foi um grande bloqueador, visto que seu jogo se baseia mais pela força. Colocando Jerami ao seu lado, os times temem mais o jogo de infiltração. Além disso, em momentos junto à Nerlens Noel, a tarefa de fazer jogo de garrafão é mais difícil ainda.

Com jogadores ágeis no perímetro, sempre há a possibilidade de roubos de bola em passes de
dentro para fora do garrafão, se este estiver congestionado. Isso tem se mostrado muito efetivo,
com OKC liderando a liga em roubos de bola. Lembram do aumento de ritmo do time? Então,
roubos de bola geram contra ataques, geram posses de bola rápidas.

O salto defensivo está presente em inúmeras estatísticas defensivas, temos três jogadores no top 20
em rating defensivo: Westbrook (1º), George (6º) e Adams (20º), os mesmos três aparecem no
top 10 em DWS (PG é o primeiro, Russell é sétimo, e Adams nono), e além disso, nossa tartaruga
ninja favorita lidera é o sétimo em DBPM.

Ano passado, apenas ele apareceu no top 20 de qualquer uma dessas estatísticas. Coincidência
ou efeito Grant? Impossível cravar, mas a comparação indica que a segunda opção é a mais provável.

3. Ataque muito mais redondo e coeso

Sempre foi uma incógnita o uso de Melo num ataque em que ele seria PF com vários jogadores que
gostam de ter a bola ao redor dele. Alguns chegaram a sugerir que ele poderia ter uma situação
parecida com a que viveu nas olimpíadas de 2012, e obteve destaque. Ele tinha inteligência e
experiência o suficiente para isso.

O que se viu foi um show de horrores. Não só da parte dele, mas o time como um todo era
desorganizado. Muitas jogadas de isolação, pouca movimentação, pouca gente tocando na bola:
não se via nada do que se espera de um ataque eficiente nos dias de hoje. Billy Donovan parecia
perdido e grande parte cai sobre suas costas.

Melo, ao seu padrão: jogo de costas para as cestas extremamente refinado, mas quando o arremesso
não caía, meu amigo… hoje, não vemos Grant fazer nada demais. O simples fato de não termos Melo
ali para atrapalhar, faz o time ir melhor.

Melhora no ataque veio de diversas formas
Paul George vem vivendo sua melhor temporada na NBA, com sua maior marca em pontos, e
melhorando quase todos os parâmetros ofensivos em relação ao ano passado, inclusive apresentando eficiência muito maior.


Steven Adams, então, nem se fala. Mostrando um jogo de post
extremamente apurado, o nosso Aquaman vai se estabelecendo como um dos melhores pivôs da
liga. Sendo cada vez mais usado de costas para a cesta, vem se mostrando um ótimo passador,
coisa que até então não era visto.

Tudo isso pelo simples fato de Grant fazer o básico: vezes fazer corte em direção à cesta, usando seu atleticismo para infiltrar, vezes para tentar um arremesso de três pontos (que em termos de porcentagem é a melhor da sua carreira).


O Thunder procurava o sucesso em um repertório ofensivo extenso e consagrado, o achou na
simplicidade.

Comentários

  1. Parabens. Perfeita explicação.
    Acredito que ainda falta o Andre roberson no lugar do Ferguson para o time encaixar de vez. Ou outro jogador mais qualificado para realmente brigar pelo título. Dennis Schroeder também agregou bastante no time como sexto homem.

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